segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

   
                                                Um voo de Liberdade

          Corpo mole,viscoso. Causa repugnância para muitos aquele ser que rasteja por entre galhos e folhas. Provoca susto,medo. Na sua moleza de viver, a tudo desconsidera porque falta-lhe razão para perceber. E vai vivendo,rastejando molemente,vagarosamente...sem pressa de viver. Possui muitas cores...não se dá conta desta beleza...há quem as aprecie e observa. 
          No entanto,de uma hora para outra algo acontece e seu andar não é mais infinito,sem rumo certo como pensara. Aflora a necessidade de fixar-se. Fazer morada. Instintivamente busca um lugar seguro e abrigado muitas vezes da claridade. Isola-se neste mundo e deste mundo. É chegado o momento de voltar-se para si...recolher-se..reconhecer-se...perceber-se. Sentir-se! A mobilidade é pouca e a cada dia que passa reduz-se mais e mais. A vida agora é apertada, espremida. Dói este novo viver. Quem vislumbrava horizontes,hoje tem uma visão limitada ou quase cega. A vida segue... num pulsar imperceptível. Por dias fica assim recolhida nesta nova casca que a aprisiona.Gaiola sem grades.
          Até que um dia, como num suspiro de anjo, a casca rompe-se e ela assustada sente que é preciso sair... ver o que há lá fora. Sente-se estranha,não é mais como era... Num processo vagaroso movimenta-se em busca da luz. Depois de demorada espera e resignação a liberdade por prêmio. Medrosa vai saindo aos poucos. Carrega consigo não mais um corpo mole e viscoso... possui longas pernas e asas! Isto mesmo: asas! Leves,translúcidas e coloridas. Encanta-se com a nova forma. Não seria mais motivo de asco...livre deste estigma. E agora? Sua forma mudara,por conseguinte sua vida também. Um pouco de medo a assombra...é sempre assim com o desconhecido. A descoberta como novo ser provoca insegurança. Permanece por um tempo imóvel. Suas asas levemente úmidas e amassadas começam a tomar forma. Em questão de minutos e lá está ela...linda e esplendorosa...a borboleta! Alguém,um poeta certamente,disse que são flores que voam...e devem ser mesmo, dada sua beleza.
            É nesta hora, consciência de liberdade, que o medo maior sucede: como fazer para sair daquele lugar? No interior da nova vida a necessidade de algo que não entende,mas sente. Então, ela cria coragem e movimenta suas delicadas asas e alça voo. Contempla o mundo de cima agora. Busca flores e nesta busca encanta-se com o riso das crianças,o colorido das flores, o azul do céu que antes tão distante...o encantamento com o novo. É livre...pode voar. O horizonte agora alarga-se. E voa... voa livremente a borboleta para em algum jardim distante pousar.
              

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